* Caminha
“E então, o Simão sempre vai ser vendido ou quê?”
Num dia normal, esta frase seria lógicamente engavetada num contexto de conversa de café reles, de ambiente familiar saudosista do antigo regime ou ainda de uma qualquer prisão de segurança média ou máxima. Assim como o contexto, também é fácil estereotipar o tipo de pessoa que se interessaria, não pelo assunto futebol, mas por algo que tenha a ver com o Simão, e, consequentemente, com o Sport Lisboa e Benfica. Estaríamos então a falar de alguém como o bêbedo do tasco, o chefe de família, o chefe do tasco, ou um presidiário, entre outros e outras.
Mas estas palavras chegaram aos meus ouvidos vindo da boca e, numa homenagem ao Umberto Eco, do pensamento da criatura menos provável de proferir tal frase: O Castelão. Como alguém (chamado Guardizela) tão bem apontou, o futebol, para aquele gajo, é assunto tabu. Ao ouvi-lo (ao Castelão), não escondi a minha surpresa pelo súbito e escorregadio interesse por tal assunto, no entanto respondi como sabia, socorrendo-me, em parte, do que tinha lido e ouvido nos media: “pá acho que não, o Valência não lhe ofereceu o salário que ele queria e não sei quê e por isso deve ficar cá a meter nojo mais uns tempos. Mas penso que ele é tipo João V. Pinto, teve o trauma de uma má experiência no estrangeiro e agora tá todo borrado por sair.” Enfim, tentei dar uma resposta politicamente correcta. Mas não demorou muito até eu perceber que, naquele pequeno (não há nada maior) episódio, estávamos já na crista da onda que iria transportar-nos durante os próximos 4 dias e noites. Isto aconteceu por volta da hora do almoço e a alguns quilómetros da estação de serviço de Viana do Castelo, a terra da Nossa Senhora da Agonia. E a atitude do Castelão (sim, atitude!) transmitiu-me a sensação de que, como o F.Pessoa, iríamos ser tipo aspiradores, não de lixo inútil, mas um tipo de aspirador que aspira todas as sensações que a nossa constância perceptiva por vezes nos nega. O Valter (o Castelão) mostrou-se aberto a um assunto que não lhe interessava minimamente, e, como eu não percebo nada de optometria, lá quebrou uma fina camada de gelo que se forma naturalmente pela distância física e temporal a que as circunstâncias da vida nos condenam inevitavelmente. A partir dali estavam lançadas as amarras para qualquer tipo de conversa, por isso religião, sexualidade e processos de transmissão cromossomática eram assuntos correntes.
O próximo passo era encostar ás boxes na e.s. de V.castelo e esperar pelo Guardizela, o “driver” que transportava a surpresa da jornada: Ana, e, a surpresa do campeonato (mais para ela, creio), o seu rebento baptizado com o nome bíblico Pedro, a viver o segundo Verão da sua vida na nossa companhia.
Estação de Serviço de Viana
Estava quente…foi a primeira vez que abrimos a arca que continha as nossas provisões: pão, queijo, vinho, fiambre, leite, droga e ovos. O essencial para os banquetes dignos da vagabundagem que iríamos encetar a partir do momento em que saímos do Porto. Esta estação de serviço, igual a tantas outras, foi o cenário de, pelo menos, dois eventos dignos de registo: Enquanto esperávamos, o Valter aproveitou para ligar o seu portátil e esta seria, como era de esperar, a única vez que tal aconteceu; pouco depois apareceu a Ana, a quem já não punha a vista em cima há muito, muito tempo. Estava igual ao que era antes, sempre com um sorriso, mas notei que agora gosta mais dela própria – no bom sentido. Ainda bem. Ah, já me esquecia do Pedro! É um puto fixe, mas um bocado trombudo.
Marcha Turca
Mas tudo começou de manhã cedo. Já não me lembro bem do que fiz na noite anterior aos acontecimentos que atrás narrei, mas sei que dormi pouco, por isso devo ter andado pela zona...Deitei-me por volta das 6 e tinha que acordar ás 8.30. Cometi o erro clássico de pensar que ia consegui-lo na boa, depois de 2 horas e tal de sono, ainda para mais com aquela jarda em cima. Resultado: acordei abruptamente ao som da Marcha Turca. Este som, composto por Mozart, desencadeia em mim a reacção de pressionar uma tecla verde que faz parte do painel do meu humilde telemóvel: Era o Valter. Ele esperava-me, no seu veículo, em Campanhã, ás 10h, tal como tínhamos combinado. Saímos do Porto ao meio dia…
“Todos diferentes, todos iguais”
Ao chegarmos a Caminha, adoptámos a postura de campistas. Nada de ir ao primeiro tasco que encontrássemos, nem de ir para a esplanada mamar finos e ver gajas…Fomos direitinhos para o parque de campismo que fica na zona noroeste, coladinho ao Atlântico, assim como ao rio Minho. Tínhamos que salvaguardar o nosso território. Eu não estou habituado a frequentar Campings, por isso ainda hoje aprendo como funciona a mecânica deste tipo de férias. Há toda uma disciplina que assenta no trabalho corporativista dos participantes, desde a escolha de um bom spot até à confecção dos cozinhados, passando pelo montar das tendas. Mas isso era trabalho para o Valter e o Filipe. A Ana tinha que tomar conta do miúdo, e eu fiquei a fazer companhia à Ana, à entrada do camping. E foi neste local que recebemos o resto dos amiguinhos que nos iriam acompanhar: O timorense Domingos, O cabo – verdiano James, e os checos Irena e Tomás. A partir daqui estava formada a irmandade do farnel, e acho que demos conta do recado.
Agora, se me dão licença, vou fazer um intervalo para ir à capital de Marrocos ver os Pearl Jam, e, se tiver tempo, visitar sítios como o Bairro Alto ou o Castelo de S.Jorge…até já.
“E então, o Simão sempre vai ser vendido ou quê?”
Num dia normal, esta frase seria lógicamente engavetada num contexto de conversa de café reles, de ambiente familiar saudosista do antigo regime ou ainda de uma qualquer prisão de segurança média ou máxima. Assim como o contexto, também é fácil estereotipar o tipo de pessoa que se interessaria, não pelo assunto futebol, mas por algo que tenha a ver com o Simão, e, consequentemente, com o Sport Lisboa e Benfica. Estaríamos então a falar de alguém como o bêbedo do tasco, o chefe de família, o chefe do tasco, ou um presidiário, entre outros e outras.
Mas estas palavras chegaram aos meus ouvidos vindo da boca e, numa homenagem ao Umberto Eco, do pensamento da criatura menos provável de proferir tal frase: O Castelão. Como alguém (chamado Guardizela) tão bem apontou, o futebol, para aquele gajo, é assunto tabu. Ao ouvi-lo (ao Castelão), não escondi a minha surpresa pelo súbito e escorregadio interesse por tal assunto, no entanto respondi como sabia, socorrendo-me, em parte, do que tinha lido e ouvido nos media: “pá acho que não, o Valência não lhe ofereceu o salário que ele queria e não sei quê e por isso deve ficar cá a meter nojo mais uns tempos. Mas penso que ele é tipo João V. Pinto, teve o trauma de uma má experiência no estrangeiro e agora tá todo borrado por sair.” Enfim, tentei dar uma resposta politicamente correcta. Mas não demorou muito até eu perceber que, naquele pequeno (não há nada maior) episódio, estávamos já na crista da onda que iria transportar-nos durante os próximos 4 dias e noites. Isto aconteceu por volta da hora do almoço e a alguns quilómetros da estação de serviço de Viana do Castelo, a terra da Nossa Senhora da Agonia. E a atitude do Castelão (sim, atitude!) transmitiu-me a sensação de que, como o F.Pessoa, iríamos ser tipo aspiradores, não de lixo inútil, mas um tipo de aspirador que aspira todas as sensações que a nossa constância perceptiva por vezes nos nega. O Valter (o Castelão) mostrou-se aberto a um assunto que não lhe interessava minimamente, e, como eu não percebo nada de optometria, lá quebrou uma fina camada de gelo que se forma naturalmente pela distância física e temporal a que as circunstâncias da vida nos condenam inevitavelmente. A partir dali estavam lançadas as amarras para qualquer tipo de conversa, por isso religião, sexualidade e processos de transmissão cromossomática eram assuntos correntes.
O próximo passo era encostar ás boxes na e.s. de V.castelo e esperar pelo Guardizela, o “driver” que transportava a surpresa da jornada: Ana, e, a surpresa do campeonato (mais para ela, creio), o seu rebento baptizado com o nome bíblico Pedro, a viver o segundo Verão da sua vida na nossa companhia.
Estação de Serviço de Viana
Estava quente…foi a primeira vez que abrimos a arca que continha as nossas provisões: pão, queijo, vinho, fiambre, leite, droga e ovos. O essencial para os banquetes dignos da vagabundagem que iríamos encetar a partir do momento em que saímos do Porto. Esta estação de serviço, igual a tantas outras, foi o cenário de, pelo menos, dois eventos dignos de registo: Enquanto esperávamos, o Valter aproveitou para ligar o seu portátil e esta seria, como era de esperar, a única vez que tal aconteceu; pouco depois apareceu a Ana, a quem já não punha a vista em cima há muito, muito tempo. Estava igual ao que era antes, sempre com um sorriso, mas notei que agora gosta mais dela própria – no bom sentido. Ainda bem. Ah, já me esquecia do Pedro! É um puto fixe, mas um bocado trombudo.
Marcha Turca
Mas tudo começou de manhã cedo. Já não me lembro bem do que fiz na noite anterior aos acontecimentos que atrás narrei, mas sei que dormi pouco, por isso devo ter andado pela zona...Deitei-me por volta das 6 e tinha que acordar ás 8.30. Cometi o erro clássico de pensar que ia consegui-lo na boa, depois de 2 horas e tal de sono, ainda para mais com aquela jarda em cima. Resultado: acordei abruptamente ao som da Marcha Turca. Este som, composto por Mozart, desencadeia em mim a reacção de pressionar uma tecla verde que faz parte do painel do meu humilde telemóvel: Era o Valter. Ele esperava-me, no seu veículo, em Campanhã, ás 10h, tal como tínhamos combinado. Saímos do Porto ao meio dia…
“Todos diferentes, todos iguais”
Ao chegarmos a Caminha, adoptámos a postura de campistas. Nada de ir ao primeiro tasco que encontrássemos, nem de ir para a esplanada mamar finos e ver gajas…Fomos direitinhos para o parque de campismo que fica na zona noroeste, coladinho ao Atlântico, assim como ao rio Minho. Tínhamos que salvaguardar o nosso território. Eu não estou habituado a frequentar Campings, por isso ainda hoje aprendo como funciona a mecânica deste tipo de férias. Há toda uma disciplina que assenta no trabalho corporativista dos participantes, desde a escolha de um bom spot até à confecção dos cozinhados, passando pelo montar das tendas. Mas isso era trabalho para o Valter e o Filipe. A Ana tinha que tomar conta do miúdo, e eu fiquei a fazer companhia à Ana, à entrada do camping. E foi neste local que recebemos o resto dos amiguinhos que nos iriam acompanhar: O timorense Domingos, O cabo – verdiano James, e os checos Irena e Tomás. A partir daqui estava formada a irmandade do farnel, e acho que demos conta do recado.
Agora, se me dão licença, vou fazer um intervalo para ir à capital de Marrocos ver os Pearl Jam, e, se tiver tempo, visitar sítios como o Bairro Alto ou o Castelo de S.Jorge…até já.
1 comentário:
o que é isso de "processo de transmissão cromossomática"?
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