segunda-feira, outubro 09, 2006

Viagens - Parte II

*Parque de Campismo de Sta. Tecla - La Guardia

O parque de campismo era pequeno, um quadrado de árvores com vegetação densa, e com uma via de cintura interna de cimento, em forma de U, que passava por todos os pontos de interesse possíveis, os quais não eram muito abundantes (repito que não frequento muitos parques, daí esta observação banal).

Já todos reunidos, e com a tralha montada e arrumada, decidimos ir relaxar para algum sítio, visto que pelo menos o Domingos, o Filipe e o Valter estavam fartos de conduzir, a Ana atarefada com o Pedrinho bem desperto…fomos para a praia, que era já ali ao lado. Cerveja já tínhamos, e, depois de alguma contemplação, conversa e mergulhos, foi-nos emprestada um bola de voleibol, e, pasmem, havia um rede montadinha à nossa beira. Showtime!!

Splash!

Mas antes do jogo pode-se dizer que o grande momento pertenceu á Irena. Quero ressalvar que toda a caracterização psicológica e interpretação de comportamentos que eu faça daqui para a frente, assim como atrás, deve ser encarada como partindo de um ponto de vista muito particular – o meu, assim como inserida num contexto único e meramente circunstancial. Por isso, ao dizer que a Irena foi uma companheira reservada e mesmo tímida, não quero presumir que ela seja mesmo assim. Só que ela não falava a nossa língua, e, mesmo quando tentávamos ter uma conversa em inglês, o campo cénico da reserva da dama mantinha-se. Mas posso dizer que ela é grande nadadora. Eu já tinha reparado no seu corpo atlético, principalmente nos ombros erectos (!?), imagem de marca de nadadores, e nem dei conta quando ela entrou na água. Acontece que ela entra e começa a nadar, e a nadar, e a nadar…e o vigia começa a gritar, a gritar e a gesticular, dizendo-lhe que não se pode ir para tão longe. Estava bandeira amarela…Isso não se faz. Ela parecia a Franzisca van Almsick, dos tempos áureos, antes de se enrolar com o treinador…Mas a Irena ainda tinha outra surpresa, que nos mostrou logo que regressámos ao parque. Estávamos no bar, o Domingos a dedilhar umas notas na sua velha viola, e…eis que ela nos brinda com os dotes de, não só de razoável guitarrista (nada muito melhor), mas também a cantarolar, no seu jeito tímido, umas duas ou três músicas lá da terra. Foi fixe, o sol estava quase a desaparecer, assim como o líquido dos copos…e a sereia checa tinha já deixado a sua marca.

Fade to Black (take the skinheads bowling…)

Aproximava-se a hora do jantar, e confesso que não me lembro de muita coisa do resto da noite. Bom, sei que antes aconteceu algo um pouco ridículo, andámos todos à procura de um miúdo mulato de 7 anos, que era nosso vizinho de tenda, e que estava acompanhado pelos pais adoptivos, um casal espanhol. Quem lançou o alerta foi a mãe, mas caramba, o pai também não estava lá…Por isso acabámos por encontrá-los num verdadeiro momento pai – filho... Falha de comunicação entre o casal?

Camarões grelhados! Valter desculpa, já não me lembro do que fizeste (foi arroz, como sempre, no entanto não me recordo de quê) mas aqueles camarões…Obrigado Domingos. Foi com casca e tudo!

Pratinhos e copos de plástico, guardanapos de papel, sentados no chão ou recostados a uma árvore, e o cheiro…o cheiro a cozinhados diluído no aroma das pinhas. Era idílico. Mas dar de comer ao Pedro pode, sob certos aspectos, ser considerado como um anti-climax desses momentos. Bom, talvez não, porque o puto comia antes de nós, mas, o drama, o horror que nos espera quando a criança tem que comer a sopa e simplesmente não quer e cospe tudo e f***tudo o que possa deitar a mão a. Eu já tinha observado este fenómeno natural no filho do meu vizinho. Testemunhei momentos verdadeiramente tétricos que me fizeram agradecer nunca ter tido o azar de, por exemplo, um preservativo rebentar ou outra coisa qualquer. Não duvido que quando (ou se) eu próprio for pai vou renascer, mas estes momentos fizeram-me também lembrar uma cena do filme “Three Kings”, onde um personagem está a ser torturado com uma caixa de cd enfiada na boca, com um dos cantos da caixa a tocar-lhe o fundo da garganta. O agressor despeja uma tina de petróleo (sim era no Iraque), o qual desliza pela superfície da caixa…Mas isto era propósito de quê?...

Bom, a seguir fomos á cidade. Não nos demorámos muito, mas o ambiente estava fixe. E é tudo o que me lembro. Ah, e o Tomás é bué de inteligente. O gajo já tá em Portugal há vários anos, mas, se não fosse o sotaque e o aspecto do leste europeu…Ele percebe tudo, os sarcasmos, as expressões metafóricas, as ironias, e o seu nível de proficiência é tal que ele próprio já produz expressões carregadas dessas mensagens subliminares, sempre engraçadas e dinamizadoras. E é muito sensato e equilibrado. É aquilo a que alguns americanos chamam de “even Steven”, o tipo de pessoa que encontra sempre um equilíbrio natural na sua vida, tipo, se deixar cair uma moeda de 2 euros por entre as grades de um esgoto, passado meia hora encontra outra no fundo da mochila. Tudo bem, vocês podem dizer que mesmo assim ele fica a perder 2 euros, porque a que estava no fundo da mochila já era dele, mas todos sabemos o sentimento de encontrar dinheiro nos bolsos quando tal não é esperado…


La Guardia

Na manhã seguinte, zarpámos para La Guardia, Galiza, Espanha. Mal saímos do barco, já dentro dos carros, o Filipe foi pra um lado, o Domingos foi para outro, e eu e o Válter pensámos: bem, o Domingos pára já, mas o Filipe só dá pela nossa falta quando a estrada acabar e só tiver o mar pela frente…Por isso fomos atrás dele, na subida do monte de Sta Tecla , e parámos num café com uma vista linda para o oceano. O próprio café tinha uma fotografia gigante da vista aérea sobre a cidade, e espero sacá-la do google earth e anexá-la a estas linhas. Mais uma vez tratámos de montar tenda no parque, e, que diferença! Como pequenos pormenores de trato pessoal, aliados á existência de uma piscina, colocam este camping a léguas da tristeza do de Caminha (até rima!!). Em vez de árvores carregadas de ramos e folhas, arvores carecas, como se do outro lado do rio fosse Outono; em vez de um ridiculo U a percorrer o parque, uma planta a fazer lembrar Espinho, com pequenos quarteirões e ruazinhas paralelas. E em vez de sermos atendidos por uns saloios mal dispostos, encontramos uns miúdos sorridentes e dinâmicos que dizem servicios em vez de casa de banho…

La Guardia está lá, aguardem o resto da descrição...

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