"Oh, discípulos de Sócrates. Mostrem que de dentro desta força criativa brota a razão que pode transformar o mundo, pois o mundo é belo e puro. Imundo é a negação do mundo e dos homens da terra!"
Esta foi a mensagem escolhida pelo grupo de 5 estagiários da escola José Fragateiro (Ovar), para ser impressa em cada marcador de livros que foi oferecido a cerca de 100 professores desse estabelecimento, no âmbito das comemorações do dia do professor, no passado dia 5. Demasiado romântica? Sim. Utópica? Claro, estamos a falar de pessoas. Por muito bom trabalho que possa ser feito, ou por muito bom que qualquer sistema de ensino seja, existirão sempre forças omnipresentes que, de várias formas, vão minar tudo o que de belo e puro for perspectivado nos seus processos. A estas forças chamamos vida real.
O dinheiro gasto na compra das prendas rondou os 30 euros. À medida que os marcadores iam desaparecendo da caixa colocada na sala dos profs., a mesma ia-se enchendo de moedas, gentis retribuições dos destinatários. Parece que ultrapassou os 40 euros! Podemos então dizer que, com esta brincadeira do dia dos profs., foram transaccionados cerca de 70 euros.
Uma das primeiras histórinhas que me foi impingida nos primeiros dias que cá passei, foi a de uma aluna nossa que, tendo um grave problema de visão, continua a usar um par de óculos que pouco ou nada adianta. Reza a lenda que a mãe não tem meios financeiros para o upgrade, no entanto aparentemente a miúda não perde um Carnaval e apresenta-se sempre vestida a rigor (no desfile). Reza também a lenda que os professores da escola estão a reunir esforços para ajudar. Acho que sim, afinal a miúda quer ver, ao contrário de alguns colegas, igualmente cegos, que se "esquecem" dos outros olhos por recearem o look á nerd. Eu também era como eles.
Eu penso que para ela o mundo seria mais belo se ela pudesse vê-lo em condições, no entanto ninguém (mea culpa) reparou que, nesta última semana, o seu problema poderia ter sido resolvido, com um pouco mais de ajuda...
Já trabalhei em locais como fábricas, hipermercados, centros comerciais e até (este foi o mais gratificante) como vendedor de porta em porta. Pelo menos o meu papel era claro: Tinha que produzir, vender, repôr, limpar, convencer, atender. Não havia muita ambiguidade. Nalguns tinha que ser inventivo, criativo, desinibido, para conseguir atingir objectivos. Noutros tinha que seguir á risca um procedimento repetitivo, como numa linha de montagem, onde a minha intervenção está já definida e programada. Nunca pensei (por acaso já) que ser professor se assemelhasse a esta última. Para já é este o peixe que me querem vender.
To be continued...
1 comentário:
e o peixe é bom ou nem por isso?!
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