domingo, abril 05, 2009

2.

Agora os obstáculos, definhando em tamanho e forma. Pareciam atirar-se ao seu corpo, inseminando uma desorientação passivo - agressiva que iluminava o seu cabelo a partir da raiz enterrada. Mala suerte que o reduziu a um estado de beligerância incoerente. A fim de não se adicionarem aos demónios que percorriam os canais do seu nervo óptico, as pessoas mudavam de passeio quando o viam hipnotizado. A sua língua tornara-se um cacho de dobradiças incapaz de terminar frases. No entanto, podíamos ouvi-lo cantar no seu sono, “con cada cuerpo que estranes mas, este varco se olvido como a nadar”. Ele havia sido salvo noutras ocasiões, mas esta iria arrasar a edificação que tinha construído a partir do seu interior. Inconvencional e inegável. Um megafone Trémulo chama…

Muitas eras se sucederam até que a assembleia do Metacarpo Trémulo decidisse eleger um novo líder, e quem melhor do que o acima mencionado neo infiel conhecido por Cerpin Taxt, provavelmente a mais solitária caricatura de homem que nós, os Trémulos, alguma vez vimos. Através de uma febre imensa, escolhemos os excertos irradiados da biblioteca das meias verdades. Um livro de impacto suspenso. Um manual que ensinava sedução através da arte do suicídio. Um vazio de ultimatos crassos, sem capítulos, adoptando arbitrariamente a colheita de sangue das conversões humanas. Cada página enrolava-se à volta de Cerpin, penetrando-o, violando-o…Pois foi pela sua mão que fomos condenados a viver congelados em imagens doentes num papel cor de osso; Pelo ritual artístico que lhe gerou os seus únicos filhos. No entanto este trapeiro nada sabia dos seus descendentes, aqueles que havia abandonado numa constipação sub – aquática. Portanto tudo começou com um duro carinho de amor vindo da Nevralgia de Cerpin, que o convocou através de um mandato de captura escarrapachado na tela da sua face…de modo a administrar-lhe um despacho de admissão temperado com morfina. Os portões de Thanos estavam agora abertos, como as asas de uma águia em voo picado.

Eu pintei o meu corpo com o negro das minhas próprias cinzas. Não vejo o interruptor quando as luzes são desligadas, desde os seus canais de cortes no pulso. Não sinto o meu caminho para lá do óbvio…há que tratar bem o pescoço…adorná-lo com uma perfuração…Eles imaginaram-me espancado e desfigurado, estendido numa passadeira de prazos esgotados. Eles chamam-me:

“Tu foste trazido até aqui pelas tuas próprias artimanhas. Aí permaneces ensopado em culpa, uma sentença que não podes negar. No mundo exterior encontrarás um destino bipolar. Aqui serás banido pelo crime de tentativa. Embarca neste veículo oculto, serás levado a fim de servires a tua pena”, falou a suave voz infantil, o estratega deste purgatório. Os eternos leprosos cantavam num ritual de auto martírio, acompanhados pelo fender de velas de vidro: “Os túneis vão-te mostrar um percurso de fuga arrependida”, choravam, “no qual atingirás um tal medo que reflecte uma visão que está mais próxima do que aquilo que parece”, continuavam os leprosos, “no teu sono encontrarás a derradeira mentira…a insignificância de outros…”

E esta era a sua sentença. Uma receita não preenchida foi deixada na minha mão. Afinal o que é que eu tinha feito? Não me conseguia lembrar. Para onde ia? Os leprosos haviam falado e por toda a assembleia os olhares condenavam-me. Eles prepararam o veículo no qual eu iria viajar. Encheram-no de amebas que iriam activar o sistema de piloto automático, prenderam-me um cinto de aracnídeos que formigavam o meu rosto e penetravam na minha boca. Assim que as aranhas amarraram o meu corpo comecei a sentir o sangue dos meus olhos. Senti o meu equilíbrio trocar de lugar com os meus pulmões. Os meus pés tornaram-se chão, as minhas costas romperam-se em lábios de latitude, batendo asas que dariam início ao processo efémero de me converter numa larva em hibernação impelida a jacto. Eu torci-me, vomitando uma sensação de rigidez cadavérica, e depois aconteceu. Uma torrente de lama espessa e florescente disparou com toda a força e afundou-me através da dimensão do espaço e do tempo. Os leprosos haviam sido bem sucedidos na sua tarefa de castigar as minhas acções de instabilidade. As suas canções de excomunhão chegavam até mim através de uma sonda de infravermelhos. Atirado para o pesadelo dentro do meu cérebro impuro. Foi a tentativa que caiu vitima destas algemas neste voo infinito. “Impeso en la sala de tivrones, un pais escrito com el noche”. A minha primeira tentativa vai-me inutilizar e deixar-me às portas da atrofia, estas son las viages antes que me fui…” – Cerpin Taxt


de loused in the comatorium storybook 2ª parte

1 comentário:

Henrique Santana C. disse...

Obrigado, rapaz. Muito obrigado mesmo.