sábado, abril 05, 2008

Assentar a Última Travessa

(No início do século XIX, vários grupos de trabalhadores, sem treino nem aptidões, construíram o sistema ferroviário da Inglaterra.
Só em vidas humanas o custo foi muito alto…)


Deixando a minha família para trás
Sem saber o que me esperava adiante
A acenar adeus, enquanto as lágrimas inundavam-me
Relembrando uma felicidade já distante

Olhei para o céu, ofereci a minha oração
Pedi – Lhe forças e orientação
Mas as simples crenças dum simples penitente
Descansam nas Suas mãos, e na minha mente

Eu dei tudo o que eles queriam
Mas mesmo assim eles queriam mais
Nós suámos e laborámos
Bons homens perderam a vida
Não acho que eles soubessem para quê
Vendi-lhes o meu coração
Vendi-lhes a minha alma
Dei tudo o que tinha na mão
Ah... mas eles não podiam vergar o meu espírito
A minha dignidade contra-atacou
Contra-ataca…

Trabalhávamos em equipa, como se estivéssemos em guerra
Os mais jovens puxavam os vagões
Nós cavávamos o túnel, revolviamos a terra
Foi quando aconteceu...

Ninguém sabia como surgiram as fissuras
Mas estas desapareceram quando tudo desabou
Numa chuva de pedras duras

O fumo dissipou, a poeira assentou
Ninguém sabia quantos tinham perecido
À minha volta via homens próximos da morte
“Disseram que era seguro, mentirosos…”
Podia escutar os choros, podia cheirar o pavor
Mas esse seria o meu dia de sorte
E depois ocorreu-me que um coração puro
Parecia ser difícil encontrar

Trabalhámos, como trabalhámos...
Vergámos a mola pelo pagamento
Debaixo da neve, chuva
A lutar contra o vento

A rebentar e a perfurar o mundo de Deus
O suor ardia nos olhos, a vida teria que melhorar
Ah mas eu consigo ouvir as minhas crianças a chorar
Consigo ver as lágrimas no seu olhar
Memórias daqueles que deixei para trás
Continuam a ecoar nos meus ouvidos
Será que voltarei um dia...
Será que verei as suas caras uma vez mais
Nunca esquecerei aquela noite
Em que eles se despediam dos seus pais

Viemos do norte
E viemos do sul
Com picaretas e martelos
Uma nova raça
Mostrou coragem ao enfrentar o destino
Eles nunca verão ninguém como nós

A assentar a última travessa
A erguer e a estabilizar os carris
Com mãos encardidas
O sol a torrar as tuas costas

Seguimos o trilho, dormimos sob as estrelas
Escavando às escuras, convivendo com o perigo
Sem mostrar medo do que poderia aparecer
Eles nunca verão ninguém como nós

v.o. P.Collins

1 comentário:

Anónimo disse...

Devia ter posto em Inglês.
Desconfio sempre das traduções (com algumas honrosas excepções).